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Audiência debate a Ciência e a Tecnologia nas escolas estaduais



O Espírito Santo está desperdiçando jovens talentos na área de inventos em função da falta de investimentos em programas de ciência e tecnologia nas escolas públicas e privadas. O problema foi apontado em audiência pública realizada pela Comissão de Ciência e Tecnologia na noite de quarta-feira (29). O evento discutiu o tema “Ciência e Tecnologia nas Escolas do Espírito Santo – como funcionam?”.

Para ilustrar a situação, o presidente do colegiado, deputado Sergio Majeski (PSDB), citou invenções importantes desenvolvidas sem apoio governamental ou da iniciativa privada por alunos capixabas do ensino fundamental, médio e técnico, que estão sendo apresentadas até esta quinta-feira (29) na 12ª Semana Estadual de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo. O evento ocorre simultaneamente na Escola Vasco Coutinho e Shopping Praia da Costa, em Vila Velha, e na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória.

O aluno Kaio Alain Littike, do ensino médio de São Domingos do Norte, é um dos jovens inventores capixabas que andam precisando de apoio de empresas e do governo. Ele criou um tênis que armazena o impacto da pisada e o transforma em energia, o que pode alimentar, por exemplo, uma prótese mecânica, eliminando a necessidade de o objeto ser recarregado numa tomada.

Kaio disse, na audiência pública, que trabalha com robótica e que começou a criar inventos aos 7 anos, produzindo brinquedos. “No ano passado eu criei um robô capaz de ser programado e ser acionado de qualquer lugar do mundo. Tudo isso feito com material reciclado do lixo, porque não tenho dinheiro para comprar as peças”, relatou.

O inventor pediu apoio para pagar as despesas de alimentação e transporte no trajeto entre São Domingos do Norte e Vitória. Às terças-feiras, ele assiste a aulas num espaço da Ufes destinado a alunos de alta performance. “Quando não aparece ninguém para me dar carona, eu perco as aulas, pois minha família é pobre e não tenho dinheiro para pagar as passagens”, contou.

Falta estrutura

O professor Hidelbrando José Paranhos, que dá aula de Geografia na rede estadual de ensino, em Vila Velha, apontou falhas nas escolas públicas para lidar com alunos com QI elevado semelhante ao de Kaio. As deficiências, segundo ele, vão desde a formação de corpo docente preparado para trocar experiências com esses pequenos gênios até o desenvolvimento de formas de identificá-los e ajudá-los a prosseguir em seus sonhos.

“A escola deveria permitir ao aluno descobrir o seu talento e dar a ele condições de se desenvolver. Infelizmente isso não acontece, pois faltam as coisas mais básicas, como laboratórios e bibliotecas funcionando”, apontou Paranhos.

Política educacional

O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, deputado Sérgio Majeski (PSDB), entende que é preciso uma política educacional que ofereça infraestrutura nas escolas e uma remuneração mais digna aos professores. “As escolas estão desamparadas”, ressaltou.

Majeski afirmou que não se pode ver ciência e tecnologia apenas nas idéias fantásticas que alguns “iluminados” transformam em realidade, mas também, por exemplo, em investimentos nos espaços físicos das unidades de ensino para permitir a acessibilidade das pessoas com deficiências. “Quando se constrói rampas de acesso para o deficiente entrar num laboratório de pesquisas também se está investindo em ciência e tecnologia”.

O militante do Movimento Organizado de Valorização da Acessibilidade (Mova), José Olympio Rangel Barreto, reforçou a fala de Majeski ao citar que a Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência recomenda o Estado a investir em estudos de tecnologias assistivas que facilitem o acesso dos deficientes aos espaços onde se geram novas pesquisas. “Essa recomendação foi acatada no artigo 4º do Decreto Federal 5.296/2004, mas infelizmente está só no papel”, citou.

Professores de escolas da Grande Vitória participaram da audiência pública. Apresentaram como principais prioridades para o incremento da ciência e tecnologia os investimentos em laboratórios e bibliotecas, disponibilização de computadores e data-show para apresentações em salas de aula e formação de professores capacitados para o auxílio e o acompanhamento dos alunos de alta performance nas escolas capixabas da rede pública.

Texto Wanderley Araújo / Web ALES

Fotografia Reinaldo Carvalho / Comunicação ALES


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